Redescobrir a pólvora é o que acontece quando
se diz que há que preservar o património, partilhar a investigação com o
público, que o conhecimento científico visa tornar-se senso comum.
Mas, quando não se está numa excitada
Primavera da vida, percebe-se que as “redescobertas” não são mais que a
permanente necessidade de sublinhar os valores, as práticas, as políticas que
se defendem, pois estas nunca estão garantidas para sempre… por mais que tenham
sido anteriormente sublinhadas e praticadas.
Como disse alguém, coisas como os valores da
Democracia nunca estão garantidos. Há que lutar por eles, apregoa-los, sempre
que possível. Isto porque há nova gente
todos os dias. Gente que não viveu o vivido e, por vezes, não tem a noção do
que foi feito, num sentido ou noutro, e não se apercebe que não há conquistas
garantidas. Claro que o que já foi escrito poderia elucidar. Mas para isso é
preciso ler e saber.
Por exemplo, dizer que não se deve destruir
vestígios que nos chegam de um passado mais ou menos distante e que são
relevantes documentos da história comum, só pode ser uma banalidade. Uma
redescoberta da pólvora. Mas é tão importante.
E mesmo assim não chega. E depois temos que
ver notáveis pinturas neolíticas através de grades, para as protegerem de uns
quantos imbecis que lhes escrevem ao lado os seus nomes (não da forma inconsciente
da importância do ali pintado, como aconteceu com os que durante gerações
gravaram ao lado de gravuras paleolíticas no Côa, mas de uma forma embrutecida
que caracteriza quem vai ver património e o trata assim).
Mas estes não são os únicos. Há esses outros,
que ainda não entenderam que há pólvoras que necessitam de permanente
redescoberta, que nunca estão definitivamente descobertas. Por isso há toda uma
tradição da investigação sociológica que resolveu começar a falar de “práticas
sociais”, um permanente fazer e falar que possibilita a perpectuação do que se
pretende perpectuar (ou quando muito o lento resultado da água em pedra dura).
Apregoar a proteção do património, a sua divulgação e partilha com o público é
uma delas. E todos os que partilham desse valor deverão fazê-lo. Sempre que
possível.