O meu nome é António Carlos Neves de Valera. Quando era mais
menino, trepava aos postes e o meu mundo de relações era restrito à família e
amigos da família, a designação era Tony. Não confundir com Toni. Porque,
nascido na velha Albion, foi de lá que veio o diminutivo (a pesar da inevitável
adaptação à pronúncia portuguesa ter resultado num Toni).
Mas mal entrei na escola passei a ser o Valera ( e o Tony ficou para a família próxima). E fui Valera
por aí a fora, entre colegas e entre as seguintes relações familiares. Toda a
minha identidade e visão de mim se construiu em torno ao nome (escrito e pronunciado)
Valera. Na escola, entre os amigos, na universidade, em toda a minha carreira
como professor. Até ao fatídico dia em que fui trabalhar para a empresa onde
trabalho há 20 anos (exactamente). Aí, não sei porquê (ou não querendo aprofundar
o assunto), passei a ser tratado pelo meu nome próprio António. A coisa ao
princípio foi estranha e complicada. Chamavam pelo ou falavam do António e eu
não percebia que era comigo. E, quando me apercebia, a coisa não me era
agradável. Apenas porque não me reconhecia no nome, no som,na grafia.
O tempo foi passando, e porque o ser humano é profundamente
plástico, fui-me habituando. Hoje já não estranho. Pelo contrário, já me
surpreendo quando alguém, que não dos círculos antigos, me nomeia por Valera.
Mas cada vez que isso acontece, é como se renascesse. E hoje, tenho uma espécie
de dupla identidade onomástica: António para uns Valera para outros (restando o Tony para a família). E isto
organiza-se no tempo e no espaço.
Mas qual é o porquê desta
conversa hoje. Porque os meus filhos são hoje tratados por Valera. Porque hoje
o mais velho faz anos e abro o Facebook e só vejo parabéns ao Valera. E fico
nostálgico, mas simultaneamente feliz.