... a aproveitar um dia bonito para revisitar uns sítios arqueológicos famosos, mas que estão um pouco entregues à sua sorte. Nem em tempo de autárquicas os poderes locais se interessam pelo património arqueológico...
sábado, 30 de setembro de 2017
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
0024 - O Milagre de S. Francisco
Há uma imensidão de livros para ler que merecem ser lidos. Eles aumentam a um ritmo bem maior que a nossa esperança média de vida. Pelo que cada vez mais vamos ficando com a consciência de que tanta coisa notável que foi escrita nos passa, e vai continuar a passar, ao lado.
Este facto também nos faz perceber que, por isso mesmo, há cada vez mais trajectórias literárias diferentes e que com maior frequência nos diferenciamos por aquilo que lemos. Cada vez mais não lemos todos as mesmas coisas e, porque o que lemos participa na construção do que somos, esta situação contribui grandemente para a diversidade de trajectórias pessoais.
Acabei de ler agora O Milagre de S. Francisco, de J. Steinbeck, cuja primeira edição é de 1935. Vá lá, consegui lê-lo antes de completar um século de publicação. É uma delícia. Uma notável apropriação do ciclo arturiano para falar sobre o que Seintbeck sempre visou: a condição humana mais frágil, mas onde há uma "nobreza" própria em nada inferior.
Mas estas delícias começam a causar-me angústia. Angústia pelo que não vou conseguir ler e certamente teria gostado de ler., já para não falar no que isso teria feito de (ou por) mim.
Esta percepção de que a velocidade e diversidade de produção nos deixa cada vez mais ignorantes, vinculados aos espaços restritos em que nos conseguimos movimentar e minimamente controlar, tem contudo uma face boa. A de que o nosso horizonte de descoberta se alargou infinitamente. Hoje, só não descobre e cresce quem não quer.
Este facto também nos faz perceber que, por isso mesmo, há cada vez mais trajectórias literárias diferentes e que com maior frequência nos diferenciamos por aquilo que lemos. Cada vez mais não lemos todos as mesmas coisas e, porque o que lemos participa na construção do que somos, esta situação contribui grandemente para a diversidade de trajectórias pessoais.
Acabei de ler agora O Milagre de S. Francisco, de J. Steinbeck, cuja primeira edição é de 1935. Vá lá, consegui lê-lo antes de completar um século de publicação. É uma delícia. Uma notável apropriação do ciclo arturiano para falar sobre o que Seintbeck sempre visou: a condição humana mais frágil, mas onde há uma "nobreza" própria em nada inferior.
Mas estas delícias começam a causar-me angústia. Angústia pelo que não vou conseguir ler e certamente teria gostado de ler., já para não falar no que isso teria feito de (ou por) mim.
Esta percepção de que a velocidade e diversidade de produção nos deixa cada vez mais ignorantes, vinculados aos espaços restritos em que nos conseguimos movimentar e minimamente controlar, tem contudo uma face boa. A de que o nosso horizonte de descoberta se alargou infinitamente. Hoje, só não descobre e cresce quem não quer.
domingo, 17 de setembro de 2017
0023 - 1965: identidades (Cartão de Identidade, não de sócio)
Quando tinha 3 anitos e me chamava "Antóbio"
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
0022 - Lisboa escondida... e a cair aos bocados
Se para alguma coisa estas iniciativas como o festival Todos servem, e estou em crer que servem para várias, uma das mais interessantes é entrarem em edifícios e lugares de Lisboa que nos estão vedados no dia a dia. E possibilita-nos ver como patrimónios notáveis estão ao abandono. Sítios notáveis, com História e histórias, que poderiam ser aproveitados num sem número de possibilidades, mas que... adiante.
Neste Todos aproveitei e fui espreitar o ex-hospital Miguel Bondarda. Nunca lá tinha entrado e fiquei maravilhado e, simultaneamente, escandalizado.
O que mais impressiona é, naturalmente, o pavilhão da segurança. Um verdadeiro "shrine" circular, para conter aqueles considerados como os loucos mais perigosos. É impossível estar ali e não nos sentirmos inseguros e apreensivos. "Muralhas" para conter perigos no interior, protegendo o exterior, a fazer relembrar algumas interpretações sobre os monumentos tipo "henge" britânicos pré-históricos ou sobre outros "shrines" mais simples africanos. Uma forma de ver como ideias e percepções ancestrais (neste caso conter um mal enclausurado) se propagam no presente.
Arrepia estar lá dentro, mesmo num cenário preparado para uma festa, mas onde os vestígios de um passado dramático continuam presentes.
Mas este ainda é o sítio que se encontra melhor preservado. O resta revela abandono, como por exemplo um notável balneário comunitário, revestido a azulejo e com banheiras esculpidas em calcário e que se encontra neste estado, sob andaimes e telhado provisório de chapa.
Sobre o edifício principal apenas posso dizer que, mais uma vez, impressiona, com os quartos (também mais parecidos com celas) que ainda conservam colados nas paredes os nomes dos ali internados.
O espaço exterior é amplo, com áreas de jardim e grandes árvores.
Olha-se e sonha-se. Que notável espaço para uma universidade. Para uma residência de estudantes Para uma mistura disto com instalações turísticas. Para... para...
E não se entende uma situação destas. Ou melhor... entende-se... e fica-se deprimido com o entendimento.
Neste Todos aproveitei e fui espreitar o ex-hospital Miguel Bondarda. Nunca lá tinha entrado e fiquei maravilhado e, simultaneamente, escandalizado.
O que mais impressiona é, naturalmente, o pavilhão da segurança. Um verdadeiro "shrine" circular, para conter aqueles considerados como os loucos mais perigosos. É impossível estar ali e não nos sentirmos inseguros e apreensivos. "Muralhas" para conter perigos no interior, protegendo o exterior, a fazer relembrar algumas interpretações sobre os monumentos tipo "henge" britânicos pré-históricos ou sobre outros "shrines" mais simples africanos. Uma forma de ver como ideias e percepções ancestrais (neste caso conter um mal enclausurado) se propagam no presente.
Arrepia estar lá dentro, mesmo num cenário preparado para uma festa, mas onde os vestígios de um passado dramático continuam presentes.
Mas este ainda é o sítio que se encontra melhor preservado. O resta revela abandono, como por exemplo um notável balneário comunitário, revestido a azulejo e com banheiras esculpidas em calcário e que se encontra neste estado, sob andaimes e telhado provisório de chapa.
Sobre o edifício principal apenas posso dizer que, mais uma vez, impressiona, com os quartos (também mais parecidos com celas) que ainda conservam colados nas paredes os nomes dos ali internados.
O espaço exterior é amplo, com áreas de jardim e grandes árvores.
Olha-se e sonha-se. Que notável espaço para uma universidade. Para uma residência de estudantes Para uma mistura disto com instalações turísticas. Para... para...
E não se entende uma situação destas. Ou melhor... entende-se... e fica-se deprimido com o entendimento.
domingo, 10 de setembro de 2017
0021 - O futuro da Arqueologia
O futuro da Arqueologia portuguesa joga-se em vários palcos, mas um dos mais relevantes é, naturalmete, o da formação, e, dentro desta, o palco universitário.
Saíram recentemente os resultados da primeira fase das candidaturas à Universidade onde, segundo se diz, mais alunos entraram.
Num rápido olhar sobre as principais instituições universitárias que apresentam cursos de arqueologia, o panorama é o seguinte:
U. Coimbra: 25 vagas - 25 entradas - nota mais baixa de entrada 11,6
U. Lisboa: 38 - 39 - 11,9
U. Évora: 20 - 20 - 12,1
U. Porto: 32 - 32 - 12,5
U. Nova de Lisboa: 30 - 30 - 12
U. Algarve: 25 - 14 - 10,2
U. Minho: 20 - 20 - 11,4
Resumindo, entraram em Arqueologia no total destas universidades 18 dezenas de alunos. Todas as universidades viram as suas vagas totalmente preenchidas, excepto a U. Lisboa, que ultrapassou (+1), e a U. Algarve que ficou com quase metade dos lugares por preencher, sendo também a que apresenta a nota mais baixa para o último aluno a entrar. E é neste ponto que surge a preocupação.
As notas mais baixas para todas estas universidades nos respectivos cursos de Arqueologia variam entre 10,2 (na UAlg) e 12,5 (na UPorto). Por outras palavras, pondendo existir alunos que escolheram Arqueologia com notas de entrada altas, o que estes números sugerem é que a maioria de alunos que entram em Arqueologia têm notas baixas. Já em tempos, num outro blog publicado em livro, referi este problema que Felipe Criado Boado chamou de "sedimentação" perigosa, pois progressivamente os alunos com menos competências (pelo menos as que podem ser expressas pelas notas de candidatura) vão-se acumulando em determinadas áreas científicas por não terem notas para entrarem noutras, com consequências óbvias para o futuro dessas mesmas áreas. E, pessoalmente, penso que há hoje muitos sinais deste processo de crescimento quantitativo sem correspondência de crescimento qualitativo em Arqueologia, já para não falar do elevado número de desistências.
O sistema reproduz esta desigualdade de partida a cada ano, a qual só poderá ser alterada se, no caso da Arqueologia, a disciplina conseguir atrair a atenção e o desejo de candidatos mais "competentes", tarefa na qual, obviamente, as Universidades não poderão estar sozinhas, pois o mundo do trabalho profissional tem muita responsabilidade nessa capacidade de atracção.
Uma outra possibilidade seria reduzir o número de cursos na globalidade, mas isso poderia trazer outros problemas à disciplina.
Um problema que não é fácil de resolver, mas que todos os que se dedicam à Arqueologia deveriam assumir como seu (não o deixando apenas para as Universidades), pois ele afecta a todos e à disciplina e profissão na sua capacidade de crescimento e relevância social.
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