domingo, 10 de setembro de 2017

0021 - O futuro da Arqueologia



O futuro da Arqueologia portuguesa joga-se em vários palcos, mas um dos mais relevantes é, naturalmete, o da formação, e, dentro desta, o palco universitário.

Saíram recentemente os resultados da primeira fase das candidaturas à Universidade onde, segundo se diz, mais alunos entraram.

Num rápido olhar sobre as principais instituições universitárias que apresentam cursos de arqueologia, o panorama é o seguinte:

U. Coimbra:  25 vagas - 25 entradas - nota mais baixa de entrada 11,6
U. Lisboa: 38 - 39 - 11,9
U. Évora: 20 - 20 - 12,1
U. Porto: 32 - 32 - 12,5
U. Nova de Lisboa: 30 - 30 - 12
U. Algarve: 25 - 14 - 10,2
U. Minho: 20 - 20 - 11,4

Resumindo, entraram em Arqueologia no total destas universidades 18 dezenas de alunos. Todas as universidades viram as suas vagas totalmente preenchidas, excepto a U. Lisboa, que ultrapassou (+1), e a U. Algarve que ficou com quase metade dos lugares por preencher, sendo também a que apresenta a nota mais baixa para o último aluno a entrar. E é neste ponto que surge a preocupação.

As notas mais baixas para todas estas universidades nos respectivos cursos de Arqueologia variam entre 10,2 (na UAlg) e 12,5 (na UPorto). Por outras palavras, pondendo existir alunos que escolheram Arqueologia com notas de entrada altas, o que estes números sugerem é que a maioria de alunos que entram em Arqueologia têm notas baixas. Já em tempos, num outro blog publicado em livro, referi este problema que Felipe Criado Boado chamou de "sedimentação" perigosa, pois progressivamente os alunos com menos competências (pelo menos as que podem ser expressas pelas notas de candidatura) vão-se acumulando em determinadas áreas científicas por não terem notas para entrarem noutras, com consequências óbvias para o futuro dessas mesmas áreas. E, pessoalmente, penso que há hoje muitos sinais deste processo de crescimento quantitativo sem correspondência de crescimento qualitativo em Arqueologia, já para não falar do elevado número de desistências.

O sistema reproduz esta desigualdade de partida a cada ano, a qual só poderá ser alterada se, no caso da Arqueologia, a disciplina conseguir atrair a atenção e o desejo de candidatos mais "competentes", tarefa na qual, obviamente, as Universidades não poderão estar sozinhas, pois o mundo do trabalho profissional tem muita responsabilidade nessa capacidade de atracção.

Uma outra possibilidade seria reduzir o número de cursos na globalidade, mas isso poderia trazer outros problemas à disciplina.

Um problema que não é fácil de resolver, mas que todos os que se dedicam à Arqueologia deveriam assumir como seu (não o deixando apenas para as Universidades), pois ele afecta a todos e à disciplina e profissão na sua capacidade de crescimento e relevância social.

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