Há uma imensidão de livros para ler que merecem ser lidos. Eles aumentam a um ritmo bem maior que a nossa esperança média de vida. Pelo que cada vez mais vamos ficando com a consciência de que tanta coisa notável que foi escrita nos passa, e vai continuar a passar, ao lado.
Este facto também nos faz perceber que, por isso mesmo, há cada vez mais trajectórias literárias diferentes e que com maior frequência nos diferenciamos por aquilo que lemos. Cada vez mais não lemos todos as mesmas coisas e, porque o que lemos participa na construção do que somos, esta situação contribui grandemente para a diversidade de trajectórias pessoais.
Acabei de ler agora O Milagre de S. Francisco, de J. Steinbeck, cuja primeira edição é de 1935. Vá lá, consegui lê-lo antes de completar um século de publicação. É uma delícia. Uma notável apropriação do ciclo arturiano para falar sobre o que Seintbeck sempre visou: a condição humana mais frágil, mas onde há uma "nobreza" própria em nada inferior.
Mas estas delícias começam a causar-me angústia. Angústia pelo que não vou conseguir ler e certamente teria gostado de ler., já para não falar no que isso teria feito de (ou por) mim.
Esta percepção de que a velocidade e diversidade de produção nos deixa cada vez mais ignorantes, vinculados aos espaços restritos em que nos conseguimos movimentar e minimamente controlar, tem contudo uma face boa. A de que o nosso horizonte de descoberta se alargou infinitamente. Hoje, só não descobre e cresce quem não quer.
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